# 1: ACONTECEU COMIGO

ACONTECIMENTOS

Imagem: emilysquotes.com

DESILUSÃO


Posso começar relatando que a minha maior desilusão não foi apenas um único ato, mas sim misto de vários acontecimentos. Claro que foram acontecimentos negativos que culminaram em determinados episódios, com efeito cascata, um após outro me levando a depressão propriamente dita.

Quando se é jovem e se tem uma adolescência saudável, de amizades, namoros, esporte, etc., em que sua auto estima se mistura muito com a sua aparência e que, na maioria das vezes fazem a diferença, a simples ameaça desse contexto se torna um verdadeiro desespero.  

A primeira desilusão veio com essa ameaça inicial. Quando completei 23 anos percebi que, aos poucos comecei a ter queda de cabelo. Claro que o fator genético contribuiu, pois o meu pai era careca, mas também a minha indiferença com higiene básica de cuidar da pele ou cabelos, além de estresse naquele momento. Aos 25 percebi que a ameaça era real e esse foi definitivamente o começo.


A partir desse ponto, veio um amor que de namoro quase culmino em noivado e que foi interrompido destruindo muitos planos que havia imaginado para minha vida.


Sempre morei com meu tio e tinha meus primos como irmãos. Crescemos juntos e sempre fomos muito ligados, porém de uma hora para outra tivemos que nos separar. Meu tio foi transferido de seu trabalho para outro Estado (Bancário), pois havia recebido uma promoção. 


Dessa forma vi minha realidade mudar radicalmente, pois eles eram minha base e instantaneamente esta base me foi retirada. Tinha um emprego bom, -porém mal daria para morar sozinho de aluguel e pagar minhas contas-, um relacionamento que já andava mal das pernas mas era a minha aposta de vida, não poderia largar tudo assim e ir embora com minha família. Dessa maneira tudo começou a desmoronar e em um piscar de olhos o fundo do poço era bem visível para mim.


Algo que eu sentia muito orgulho, que era a minha aparência, estava se esvaindo a medida que o tempo passava. Minha noiva me abandonou, minha família foi embora. Neste momento de minha vida, com todos esses acontecimentos, transformou-se em um contexto propício para uma depressão e iniciou-se com minha desilusão.  


ISOLAMENTO

O isolamento foi o momento diferencial em minha derrocada. Diferencial no sentido negativo mesmo, pois a partir da minha desilusão tudo culminou em um isolamento social. Sem famílias, sem amigos, colegas, namorada, enfim, sem ninguém.

Me isolei em um quarto escuro, ao qual passava meus dias e noites em reclusão.


SOLIDÃO

A solidão vem logo após o isolamento. Logicamente tentei usar este momento ao meu favor, porém só tinha exito em momentos esporádicos. Como gostava muito de desenhar, principalmente quadrinhos. Tentava de todas as formas e com muito esforço, fazer disso uma terapia, porém em vão.

Nunca consegui dar sequencia ao que começava, abandonando logo em seguida. Por desânimo, desmotivação, tristeza, ou seja, a solidão não me proporcionou uma maior concentração que talvez falte quando se tem muitas pessoas convivendo com você. Solidão: mais um declínio. 


SENSAÇÃO DE FRACASSO

Uma das piores sensações que eu já havia experimentado e que acredito ser uma das piores coisas que um ser humano pode enfrentar: sensação de fracasso. 

Tudo que eu fazia ou tentava, tendia sempre a dar errado. Até então com 27 anos não havia me formado, não tinha se quer uma profissão técnica. Sempre trabalhei com vendas e o que ganhava dava mal para me sustentar. Naquela altura de minha vida, eu apenas sobrevivia. 


Com o psicológico abalado por todos os acontecimentos ruins em tão pouco tempo em minha vida, a sensação de fracasso, de ser um inútil era terrivelmente incorporada a minha realidade, afinal, a pouco perdia namorada/ noiva e a percepção do motivo sempre vinha a cabeça que era o meu fracasso pessoal. 


NEGATIVIDADE

Nesta faze da minha vida eu me tornei a pessoa mais negativa do mundo. Ao menos foi o que eu mesmo percebi depois que tudo já havia acontecido. Sempre que pensava e realizar algo, via a possibilidade de alguma coisa dar errado. A minha tática era sempre ter um plano "B". Eu tinha a necessidade deste plano, pelo fato de sempre pensar em não ser pego de surpresa: "e se não der certo, o que faço?".

Então, com o plano "B" eu nunca ficaria na mão, ou seja, já iniciava algo esperando que iria dar errado, claro, noventa por cento realmente dava errado. 


Essa fase foi perversamente cruel pra mim, pois com toda essa carga negativa ao qual eu passava e sentia, me deixou mais vulnerável ainda. Daí a sensação de fracasso já percebido só aumentava.


ENTREGA

A partir desse momento não tinha mais controle de exatamente nada. Estava vivendo à deriva, como um náufrago em um bote em alto mar contando com a sorte -que nunca vinha-, deixando a vida, literalmente me levar.  

Neste estágio, não tinha domínio e nem convicção de nada que acontecia em minha vida. Simplesmente esperava acontecer e tentava me convencer de que aquilo era o destino, minha sina. Estava totalmente entregue à minha própria sorte.   


PREPARAÇÃO PARA O SUICÍDIO

Bem, esse foi o ápice da minha depressão. Uma trajetória decrescente ao qual me trouxe a este exato ponto. Ao ponto final de um depressivo crônico: a intenção de retirar a própria vida, a preparação para o suicídio. 

A preparação vem ao longo de todas as etapas anteriores, porém, quando este sentimento me invade é que então bate aquela sensação de fim.


Neste estágio nada mais tem importância/ sentido e é muito raro, além de possibilidades remotas de algo desviar a atenção de alguém que passou todos os estágios de uma depressão e tem como meta final a sua própria morte.   











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